O Largo das Portas do Sol tem um dos mais bonitos miradouros de Lisboa, com Alfama aos nossos pés. E porque se chama Alfama? Na época romana, as águas desta área tinham propriedades termais, com nascentes de água quente e fria. E daí vem o nome: do termo al-hamma, que significa nascente de água quente.
História
Durante o domínio muçulmano, poder-se-ia falar de uma Alfama do Alto, mais aristocrática, situada dentro da Cerca Moura, na parte oriental da actual freguesia da Sé, que comunicaria pela Porta de Alfama ou de São Pedro (na actual rua de São João da Praça) com uma Alfama do Mar, arrabalde popular.
Com o domínio cristão a designação Alfama foi-se alargando mais para leste, dentro dos limites da Cerca Nova ou Cerca Fernandina, passando para lá do Chafariz de Dentro.
Este bairro foi outrora o mais agradável da cidade. As origens do declínio surgiram na Idade Média, quando os residentes ricos se mudaram para o oeste, deixando o bairro para uma população de pescadores e marinheiros.
Os prédios resistiram ao terramoto de 1755. Apesar de já não existirem casas mouriscas, o bairro conserva um pouco do ambiente, do casbá com as suas ruelas, escadarias e roupa a secar nas janelas. As áreas mais arruinadas estão a ser restauradas e a vida desenvolve-se em volta das pequenas mercearias e tabernas.
Águas de Alfama
A razão de ser do nome Alfama é confirmado pela carta geológica do concelho de Lisboa, que mostra um grupo de nascentes minero-medicinais associadas a uma falha geológica que corta as camadas do Miocénico. Ao longo da história, estas nascentes foram encanadas para alimentação de chafarizes.
Chafarizes de Alfama
Chafariz de El-Rei
Chafariz de Dentro
Chafariz da Praia (desmontado)
Graças a este conjunto de nascentes com um caudal significativo, Alfama era, antes da construção do Aqueduto das Águas Livres, a zona de Lisboa com menos problemas de falta de água. As águas de Alfama ou Águas Orientais foram introduzidas em 1868 na rede de abastecimento público de Lisboa com a construção no local do antigo Chafariz da Praia de uma cisterna que recolhia a água e de uma estação elevatória movida a vapor que a elevava até ao recém-construído reservatório da Verónica (1862). O Museu do Fado está actualmente instalado sobre a cisterna, a qual pode ser visitada.
Essas águas com temperaturas que nalguns casos se situam acima dos 20°C, e que chegaram mesmo a ser classificadas, em finais do século XIX, como águas minero-medicinais, foram exploradas pelo menos desde o século XVII como banhos públicos ou alcaçarias, que se mantiveram em actividade até às primeiras décadas do século XX.
Alcaçarias de Alfama
Alcaçarias do Duque (30º a 34°C)
Banhos de Dona Clara (24º a 28°C)
Alcaçarias do Baptista (32º a 34°C)
Banhos do Doutor (27°C)
Na sequência de obras, foi posta a descoberto a nascente do antigo Tanque das Lavadeiras de Alfama. As pretensas propriedades curativas dessas águas granjearam fama à nascente, designada Fonte das Ratas, a qual atingiu o pico de afluência no início dos anos 60 do século XX, imediatamente antes do seu encerramento por contaminação.