A paradisíaca aldeia no norte de Portugal onde apenas vive uma pessoa
Percorrem-se uns largos quilómetros de estrada sem avistar qualquer povoação até se chegar a Val de Poldros, a 1200 metros de altitude, com uma vista imponente da serra da Peneda. Como anfitrião, temos Fernando Gonçalves, 48 anos, o único habitante da aldeia, que regressou à terra natal em 2004, depois de ter estado como emigrante em Andorra. “Era tanto o silêncio que parecia que fazia mal”, recorda.
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Não há, por isso, pedidos à lista. Quem chega come o que foi preparado de antemão por Fernando, hoje um cozinheiro experiente e dedicado. Pode ser uma aveludada sopa de saramagos (uma planta silvestre), feijões afogados (misturados com arroz e massa), um novilho assado ou um valente costeletão de novilho.
Este é um dos exemplos de brandas no Alto Minho (são cerca de dez), povoados de montanha apenas habitado durante os meses de verão, para aproveitar os viçosos pastos. Nos restantes, os habitantes desciam à inverneira Riba de Mouro, a sede da freguesia, uma transumância humana que hoje poucos praticam.
Vale (ou Val) de Poldros — assim denominada porque na época de D. Dinis aqui se criavam os poldros [regionalismo para o mais comum: potros] para a guerra – é uma das “cerca de dez brandas existentes na região do Alto Minho e aquela que concentra o maior número de cardenhas em melhor estado de preservação.
Ainda há quem faça este movimento, aproveitando as inúmeras nascentes que correm pelos vales até Maio, utilizadas nos “regueiros de milho” e para a plantação de centeio nos lameiros (socalcos), que vemos agora ainda postos de verde relvado delimitado por muros de pedra.
Também existem cardenhas noutras brandas, mas a maioria foi destruída pelos proprietários, que utilizaram as pedras para construir casas melhores. O abandono de Vale de Poldros pelos seus habitantes terá sido a principal causa de preservação das cardenhas nesta aldeia.
Na actualidade e à semelhança de muitas outras brandas, Vale de Poldros perdeu toda a economia que fazia dela um local indispensável à sobrevivência da população. As suas construções continuam a resistir aos tempos mas o seu passado perde-se entre a vegetação que cobre os seus edifícios.
As alterações neste território começaram a surgir em meados do século XX d.C. devido a factores demográficos, culturais, económicos e políticos.
A grande mudança resulta da intervenção estatal nos baldios, à qual se seguiu um grande fluxo migratório das populações locais, o êxodo rural que levou ao abandono do território e à desertificação, situação que ao longo dos anos agrava cada vez mais.
A sociedade portuguesa, em geral, abandonou a prática da agricultura e estas alterações culturais interferiram no povoamento de montanha.
Foram criadas novas vias e meios de comunicação alterando as relações de distância entre lugares e levando ao abandono de antigas vias, substituídas por novos caminhos que rasgam a serra e alteram o modo de interacção com a paisagem.
Todos estes factores levaram ao esquecimento destes aglomerados, que de certa forma começam aos poucos a ganhar uma nova vida, com a introdução do Turismo Rural neste território repleto de potencial natural e patrimonial.
A Branda é um lugar de montanha, onde se dirigiam os pastores com o seu gado no inicio dos meses de maior calor, a partir de Maio. Existem dois tipos de Brandas ; Brandas de gado e as Brandas de cultivo A Branda de Sto António situada a cerca de 1100m de altitude numa chã elevada, onde existiam melhores terrenos para o pasto de gado bovino e para a prática da agricultura. Trata-se de uma branda de gado que com o tempo se converteu em Branda mista .
A principal caracteristica desta Branda é a concentração de abrigos de pedra seca (sem juntas) cobertos em pedra com o que se chama de falsa cúpola. Estas construções distribuem-se em redor dos caminhos naturais usados pelos pastores, existindo numa das derivações de caminhos um largo com cruzeiro.
Estas construções são chamadas de Cortelhos ou Cardenhas, e são construções aparentemente rudimentares, que aproveitam o relevo do terreno, e algumas chegavam a ter dois pisos, onde o pastor podia pernoitar no piso superior, e ao gado ficava no de baixo, ou no recinto exterior chamado de bezerreira protegido por muros de pedra solta.
Estes abrigos são de planta rectangular ou quadrada entre 4-6m de lado, com parede dupla, com lajes maiores nos cunhais, e os seus vãos criados por lajes , duas laterais "tranqueiras", e uma superior "padieira". O seu interior é escuro e frio, a um canto existe uma laje do fogo, onde era feita a fogueira para confeccionar os alimentos e fornecer calor, ao lado desta ficava um pequeno buraco na parede onde o brandeiro guardava os potes de ferro para cozinhar.