Lavre é uma antiga freguesia portuguesa do concelho de Montemor-o-Novo na região Alentejo, com 116,40 km² de área e 740 habitantes (2011). A sua densidade populacional era 6,4 h/km².
Foi extinta (agregada) pela reorganização administrativa de 2012/2013,
[1] sendo o seu território integrado na União de Freguesias de Cortiçadas de Lavre e Lavre.
Foi vila e sede de concelho entre 1304 e 1834. Era constituído pelas freguesias de Lavre e São Lourenço e tinha, em 1801, 1131 habitantes.
A região de Lavre é ocupada desde os primórdios da humanidade. No território que envolve a vila têm-se registado numerosos achados arqueológicos de diversos períodos; Paleolítico Inferior (atestado por artefactos líticos no leito e margens da ribeira de Lavre), Calcolítico, et aI., cujo levantamento e estudo sistemáticos urge encetar.
Na margem esquerda da ribeira de Lavre, junto à localidade, detectaram-se recentemente vestígios romanos que poderão apontar para a existência de uma
villa no local. Apesar da tradição popular e literária aludir à existência de uma povoação muçulmana, denominada Lavar ou Lavay, onde hoje se ergue a vila de Lavre, faltam-nos dados concludentes que o comprovem. A mais antiga referência conhecida ao topónimo Lavar data de 1186. Na doação do Castelo de Palmela à Ordem de Santiago diz-se que os seus domínios chegavam «à foz de Lavar». Embora essa primeira alusão se refira à ribeira de Lavre e não propriamente à povoação homónima, pode inferir-se a existência da povoação já naquela data, dado o costume ancestral de designar os cursos de água com o mesmo nome da principal localidade por onde passam.
Criação da Freguesia de Lavre, no Concelho de Montemor-o-Novo, Distrito de Évora
A região de Lavre é ocupada desde os primórdios da Humanidade. No território de Lavre têm-se registado numerosos achados arqueológicos representativos do Paleolítico Inferior e Superior (líticos encontrados nas margens da Ribeira de Lavre), Neolítico e Calcolítico.
O Casal das Antas, pertencente ao território de Lavre, atesta a importância da cultura megalítica da região, com a existência de três antelas in situ e a localização de duas outras já foram do contexto arqueológico original. Casal das Antas remete também para um passado romano, uma vez que o topónimo Casal aparece muitas vezes ligado a antigas explorações agrícolas romanas de pequena dimensão (os chamados casais romanos).
Também na margem esquerda da ribeira de Lavre, junto à localidade, foram detetados vestígios romanos que poderão apontar para a existência de uma villa no local.
A tradição popular aponta para a existência de uma antiga povoação muçulmana, denominada Lavar ou Lavay, onde hoje se situa Lavre, mas não existem dados concludentes que o provem. O facto é que a primeira referência conhecida ao topónimo Lavar data de 1186, quando na doação do castelo de Palmela à Ordem de Santiago se escrevia que os seus domínios chegavam “à foz de Lavar”. Embora esta referência aluda à ribeira e não a uma povoação, pode inferir-se que a mesma já existia à época, uma vez que é costume ancestral dar, aos cursos de água, a designação das povoações por onde passam.
Em 1203, data da primeira atribuição de foral a Montemor-o-Novo, as terras de Lavar surgem incluídas no termo daquela vila. Outras referências surgem em textos do séc. XIII: “as “cimalias” de Lavar extremavam em 1217 com a herdade do bispo D. Soeiro”; “D. Afonso II doou uma herdade em Lavar ao seu falcoeiro Mendo Gomes em 1220.”; O prior da igreja de S. Pedro de Coruche vendeu aos religiosos de Avis uma herdade em Lavar.”.
Numa carta de doação de Dinis da herdade pertencente à Ordem de Avis, surge a primeira alusão conhecida à fortificação de Lavar: tal herdade situava-se “a par da torre de Lavar”, (provavelmente pertencente ao castelo de Lavar) ainda existente no principio do séc. XIII e, provavelmente, destruída com o terramoto de 1755.
Lavre recebeu, das mãos de D. Dinis, o primeiro foral em 13 de Fevereiro de 1304, em 27 de Março do mesmo ano recebeu, cedido pelo povo de Montemor-o-Novo, a concessão do território para o novo concelho. O Segundo foral foi atribuído também por D. Dinis e data de 11 de Fevereiro de 1305. No foral de 1304 D. Dinis usa e reforça os mesmos privilégios que já havia estabelecido para Évora e Montemor, isentando também os trabalhadores da vila de Lavar de participarem nas expedições contra os muçulmanos. Assegura também o direito à propriedade daqueles que, vivendo em Lavar, tivessem nos seus arredores alguns terrenos, numa altura em que era usual ter que viver numa determinada terra e cultivá-la para não perder direito a ela.
Lavre e o seu concelho permaneceram na posse da Coroa portuguesa até 1430, ano em que D. João I doa o castelo da Lavre ao alemão Lambert de Horques, nomeando-o alcaide-mor da fortaleza e concedendo-lhe a tutela de um território que inclusive ultrapassava os limites do concelho. A presença dos povoadores germânicos foi, contudo, efémera já que em 1437 João Lamberto, filho de Lambert Horques, renunciou ao senhorio de Lavre.
Posteriormente a vila e sua jurisdição haviam de ser sucessivamente entregues a vários senhores até que em 1483 é entregue a Fernão Mascarenhas iniciando-se assim uma ligação histórica entre esta família e Lavre.
Em 1759 a donataria de Lavre pertencia a D. José de Mascarenhas que, por alegado envolvimento no atentado contra o rei, é condenado juntamente com os Távoras no patíbulo de Belém. A partir dessa data a donataria de Lavre regressa à Coroa.
Os limites do concelho de Lavre albergavam então uma área de 280km² e albergava duas paróquias: Nossa Senhora da Assunção (atual paróquia de Lavre) e são Lourenço.
Em 1755 a vila de Lavre foi duramente atingida pelo terramoto, chegando inclusivamente a perder alguns dos seus habitantes, casas e edifícios religiosos.
Em 1836 o processo de reforma administrativa liberal colocou Lavre no termo do concelho de Montemor-o-Novo, terminado assim com a existência de um concelho com 500 anos de história.
Outro facto interessante sobre a história de Lavre é que no final da década de 70 do séc. XX residiu na vila, durante algum tempo, José Saramago, prémio novel da literatura. A sua experiência em Lavre, bem como a história da região, acabariam por lhe servir de inspiração para o romance, mundialmente conhecido, Levantado do Chão, publicado em 1980.
Com as alterações da reforma territorial de 1988 a Freguesia de Lavre foi dividida em três, cedendo território às novas freguesias de Cortiçadas de Lavre e Foros de Vale Figueira, o que resultou numa maior aproximação do poder às populações.
De 1988 até 2013 a Freguesia de Lavre possuiu uma área de 115,431 km², incluindo, para além da sede de freguesia, os aglomerados de Vale da Chama, Vale da Pedreira, foros da Mata, Vale dos Sismarros e Vinha das Canas, para além dos montes dispersos. De acordo com os censos 2011 a Freguesia de Lavre tinha 740 habitantes.
A Freguesia de Lavre, como Freguesia predominantemente rural e do interior do país, sempre foi caracterizada por um forte peso do sector primário, em termos de distribuição económica e empregabilidade, embora, nos últimos anos, se tenha assistido a um cada vez maior investimento em outros sectores de atividade, nomeadamente a nível do turismo.
De facto o turismo assume um papel cada vez mais importante no território de Lavre que conta com a presença de várias ofertas turísticas, nomeadamente, vários empreendimentos de turismo rural, o parque zoológico do Monte Selvagem e vários espaços de referência para o turismo cinegético.
De salientar é também o papel do Centro Social e Paroquial de Santo António, vocacionado para as respostas sociais na área da terceira idade e infância e que, atualmente, é o maior empregador em Lavre. Em Lavre existe ainda todo um conjunto de pequenas lojas de comércio tradicional bem como uma oferta, a nível da restauração, que é reconhecida a nível nacional.
Em 1203, data da atribuição do primeiro foral a Montemor-o-Novo, as terras de Lavar surgem incluídas no termo daquela vila. Outras referências surgem em documentos do século XIII: as
cimalias de Lavar extremavam em 1217 a herdade do bispo D. Soeiro. D. Afonso II doou uma herdade em Lavar ao seu falcoeiro Mendo Gomes, em 1220. O prior da igreja de São Pedro, de Coruche vendeu aos religiosos de Avis uma herdade em Lavar.
Numa carta de doação ao rei D. Dinis da herdade pertencente à Ordem de Avis, surge a primeira alusão conhecida à fortificação de Lavar: tal herdade situava-se «a par da Torre de Lavar» (provavelmente pertencente ao Castelo de Lavar a que aludiremos adiante), ainda existente no princípio do século XIII e provavelmente demolida pelo terramoto de 1755.
Pelo foral de D. Dinis, de 13 de fevereiro de 1304 constitui-se o concelho de Lavre, através da desanexação de terras do termo de Montemor. Nesse diploma, para além da habitual enumeração de deveres e privilégios dos moradores, procedeu-se a uma primeira delimitação territorial do novo concelho.
Lavre e o seu concelho terão permanecido na posse da Coroa até 1430, ano em que D. João I, porventura querendo reanimar o povoamento da região, fez doação do castelo de Lavar ao alemão Lambert de Horques, nomeando-o alcaide-mor da fortaleza, ao mesmo tempo que lhe atribuía a tutela de um vasto território que ultrapassava em muito os limites tradicionais do concelho, prolongando-se por terras hoje pertencentes aos concelhos de Coruche e Arraiolos. Foi efémera a presença dos povoadores germânicos nestas paragens, já que em 1437 o filho de Lamberto de Horques, João Lamberto, renunciou ao senhorio de Lavre.
Inicia-se em 1483 a ligação histórica entre a família Mascarenhas, futuros condes de Santa Cruz e marqueses de Gouveia, e a vila de Lavre. Nesse ano, fazendo jus à influência que detinha junto do rei D. João II, Fernão Martins de Mascarenhas acrescentou aos cargos de capitão de ginetes, alcaide-mor de Montemor e Alcácer do Sal e comendador de Mértola, o senhorio de Lavre. Os condes de Santa Cruz mantiveram a donataria de Lavre até 1759, ano em que, por alegado envolvimento no atentado contra a pessoa do rei, D. José de Mascarenhas (8.º duque de Aveiro, 5.º marquês de Gouveia, 8.º conde de Santa Cruz, 14.º senhor de Lavre e 14.° alcaide-mor de Montemor-o-Novo) é levado a julgamento, juntamente com os Távoras, no patíbulo de Belém. A partir daquela data a donataria de Lavre regressaria à Coroa.
Apesar de estar por fazer um levantamento sistemático da documentação histórica dos séculos XVI e XVII, relativa a Lavre e ao seu concelho, conhecem-se algumas referências que levam a concluir sobre um relativo crescimento da vila e seu termo até à primeira metade do século XVIII.
No Numeramento de 1527 a vila e seu termo teria aproximadamente 360 habitantes, dos quais 110 na sede. Das visitações ordenadas pelos cardeais-infantes D. Afonso e D. Henrique às igrejas de Lavre, respectivamente em 1534 e 1542, infere-se da existência de um assinalável património artístico-religioso nas duas paróquias do Concelho (Matriz da Vila e S. Lourenço no termo) já no século XVI.
Ainda no mesmo século e tirando partido das deslocações frequentes da corte entre o Alentejo e o Ribatejo e do comércio recoveiro que se fazia entre os portos do Tejo e Sorraia e o interior alentejano, terá sido construída a ponte sobre a ribeira de Lavre, cujas ruínas ainda hoje se observam a poucos quilómetros para sudeste da vila. Nos séculos XVII e XVIII novos edifícios engrandeceram Lavre: as ermidas de Santo António, S. Sebastião, S. Pedro e S. Miguel, a igreja e hospital da Misericórdia de Lavre, os Paços do Concelho e provavelmente a ermida de Santa Comba; de cuja estrutura nada resta à superfície. Em 1708, segundo o padre Carvalho da Costa, a vila tinha já cerca de 1000 habitantes, contando o seu termo cerca de 400. Ainda segundo aquele autor, a edificação mais vistosa da vila era a Torre do Relógio (quiçá a Torre de Lavar a que aludimos anteriormente), do cimo da qual se avistava Montemor.
Foi basicamente aquela a povoação que o terramoto de 1755 destruiu. Seguindo a Memória Paroquial, escrita pelo padre Matias Vieira Leitão em 1758, atesta-se a destruição provocada por aquele sismo nas igrejas e noutros edifícios de Lavre. Assim, exceptuando pequenos danos na igreja da Santa Casa da Misericórdia e nas ermidas de S. Sebastião e Santo António, quase todos os edifícios foram gravemente afectados.
A grande destruição provocada pelo terramoto 1755, terá contribuído decisivamente para o início de um declínio acentuado nas décadas seguintes. Em 1801 viviam na freguesia-sede 940 habitantes e no termo 161, o que traduz uma redução populacional em relação ao século anterior.
A ruína da Ponte da Ribeira em 1804 deverá ter sido nefasta para as comunicações da vila com as outras terras do Alentejo, principalmente quando as invernias não permitiam passar a vau a ribeira.
A situação de isolamento da vila terá levado provavelmente os vereadores do Concelho a pedirem ajuda ao poder central, uma vez que em 1806 foi expedida uma provisão do Desembargo do Paço em que se ordenava o concerto da referida ponte, a expensas de uma derrama a lançar sobre a população. Contudo, devido ao estado de guerra em que o Reino se viu envolvida a partir de 1807, jamais se procedeu a tal reconstrução.
O concelho de Lavre tinha uma área territorial que não seria desprezível em termos Comparativos: se considerarmos que a superfície média dos concelhos do Pais seria no final do Antigo Regime de 100 km², e a média dos concelhos do Alentejo e Algarve de 300 km², a sua área territorial suposta deveria rondar os 280 km². Apesar disso, a concelho de Lavre enfrentou sempre grandes dificuldades de subsistência.
Exceptuando o vale de Simarros, onde a horticultura era possível, os o1ivais que rodeavam a vila e algumas vinhas, a produção agrícola era escassa. As principais fontes de rendimento do Concelho provinham das sobras dos impostos, das rendas de pequenas herdades concelhias (que por vezes ficavam por arrematar), das coimas e licenças passadas a artesãos e comerciantes.
O abastecimento de cereais constituiu um problema ancestral da povoação, a que se procurou responder, quer por via de posturas concelhias extremamente rígidas quanto à saída de cereais e farinhas para fora, quer pela imposição regular de termos de fiança a padeiras, maquilões e moleiros (alguns das quais exercendo a sua actividade fora dos limites do Concelho).
As dificuldades de auto-sustentação da edilidade local, a par do declínio notório da localidade no princípio do século XIX, condenaram o concelho à extinção. Desse modo, no âmbito da reorganização administrativa do país decretada por Passos Manuel, é ordenada a 6 de novembro de 1836 a extinção do concelho de Lavre e a sua integração no concelho de Montemor-o-Novo.
Apesar da extinção do concelho e da sua constituição numa Junta de Paróquia, a paróquia de São Lourenço continua anexada a Lavre, pelo menos até 1850, ano em que é anexada à de São Geraldo e em que é lavrado o seu último assento de nascimento. Por uma nota de 1866 a vila e freguesia de Lavre, juntamente com metade da de São Lourenço anexa, contava cerca de 1130 habitantes.
Na segunda metade do século XIX, acompanhando o crescente interesse dos grandes proprietários pela cortiça e pela suinicultura, e a procura crescente de lenha para abastecer a indústria e os caminhos-de-ferro, assiste-se à substituição de extensos matagais por montados de sobro e azinho nas herdades da zona. Data dessa época o crescimento de uma outra localidade dentro da freguesia: Cortiçadas de Lavre, hoje freguesia autónoma.
A extracção de cortiça, mais do que as culturas agrícolas tradicionais, ou a plantação de arroz tomaram-se a principal fonte de rendimento de várias famílias de proprietários. Entre estes destacam-se as famílias Frade e Veiga, precursores na introdução de máquinas na agricultura, moagem e lagaragem da freguesia.
Entre as figuras principais de Lavre de finais do século XIX e da primeira metade do século XX, destacou-se mestre Simão Luís da Veiga, pintor da escola de Malhoa, cavaleiro tauromáquico e proprietário da Herdade do Pedrógão. Figura ainda hoje muito recordada pelos lavrenses mais velhos, pelas suas qualidades humanas, placidez e simplicidade, relacionava-se com a família real, tendo a vila assistido por diversas vezes à passagem de el-rei D. Carlos na sua companhia, com destino ao Pedrógão. Em 1949 seria a vez de o rei Humberto II de Itália e da princesa D. Maria Pia de Sabóia visitarem os campos de Lavre e a Herdade do Pedrógão. Exaltando a natural
aficción das gentes de Lavre, destacou-se ainda o seu filho Simão da Veiga Júnior, considerado, a par de João Branco Núncio, o melhor cavaleiro tauromáquico da segunda metade do século XX, também ele muito acarinhado pelos lavrenses, pela sua participação em benfeitorias na povoação.
O escritor português, nobel da literatura, José Saramago, residiu algum tempo nesta vila alentejana, no final dos anos 70. A experiência por que passou aquando da sua estadia, serviu-lhe de inspiração para o romance
Levantado do Chão, publicado em 1980
Casa do Lavre para comer e dormir
A Casa do Lavre é uma propriedade erguida numa elevação da vila composta por uma Casa Senhorial do início do século XX, cuja arquitetura terá inspirado o escritor Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, na sua obra "Levantado do Chão". Neste espaço, quatro belos quartos e uma suite nupcial encantadora privam com salões, casa de jantar privativa para grupos de 8 a 10 pessoas, biblioteca, pátio florido e a sala dos pequenos-almoços. A propriedade desvenda os seus encantos ao sabor dos passeios pelas alamedas dos jardins ou pelas ruas da aprazível vila de Lavre.